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Movimento MRLT denuncia grilagem da Suzano e reivindica reforma agrária no Espírito Santo

Movimento MRLT denuncia grilagem da Suzano e reivindica reforma agrária no Espírito Santo

Foto: COMRLT

Famílias sem-terra que ocuparam área no norte capixaba, cobram destinação social de terras devolutas para a produção de alimentos saudáveis

Há quase três mêses, famílias camponesas organizadas no Movimento Resistência e Luta pela Terra (MRLT) ocuparam uma área rural localizada no km 255 da estrada entre Conceição da Barra e Itaúnas, no norte do Espírito Santo. O terreno, segundo o movimento, é grilado pela empresa Suzano Papel e Celulose, e vem sendo alvo de tentativas de reintegração de posse e ações intimidatórias por parte de seguranças armados.

A ocupação foi realizada em 17 de março de 2025, data que marca a fundação do MRLT e que remete a simbolismos ligados à luta social, como o Dia Internacional das Mulheres e o assassinato da vereadora Marielle Franco, cujo nome batiza o acampamento. O movimento declara-se autônomo, composto por famílias sem-terra, e defende a reforma agrária como direito previsto no artigo 184 da Constituição Federal de 1988.

O MRLT denuncia a lentidão nas políticas de redistribuição de terras no Brasil, agravada desde 2016, quando o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff resultou no desmonte de iniciativas de assentamento. Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário indicam que entre 2016 e 2020 não foi criado nenhum novo assentamento. De 2021 a 2023, a União não adquiriu sequer um hectare para fins de reforma agrária. Apenas em 2024 foram destinados 19.630 hectares, quantidade considerada insuficiente frente às mais de 100 mil famílias acampadas no país.

De acordo com o movimento, a empresa Suzano detém ilegalmente mais de 400 mil hectares de terras devolutas no Espírito Santo, utilizadas majoritariamente para monocultivo de eucalipto. O MRLT também aponta que os altos preços praticados pela empresa impedem que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) avance com desapropriações. Outras áreas devolutas estão sob controle de grandes latifundiários e empresas com débitos junto à União, algumas envolvidas em denúncias de trabalho análogo à escravidão.

Movimento MRLT denuncia grilagem da Suzano e reivindica reforma agrária no Espírito Santo

O objetivo da ocupação Marielle Franco é a destinação da área para fins de reforma agrária e a criação de acampamentos produtivos voltados à produção de alimentos agroecológicos. O movimento defende um modelo de agricultura livre de agrotóxicos e com práticas sustentáveis de manejo ambiental, como reflorestamento, preservação de nascentes e combate à degradação do solo.

O MRLT critica a expansão do uso de agrotóxicos no país, intensificada com o novo marco legal sancionado em 2023. Em 2024, o Brasil bateu recorde de aprovação de agrotóxicos, com 663 novos produtos liberados, dos quais 15 foram classificados como altamente tóxicos pela Anvisa.

Além da pauta agrária, o movimento destaca a importância da unidade entre trabalhadores do campo e da cidade na luta contra a concentração fundiária, a desigualdade social e a criminalização de movimentos sociais. Denuncia ainda o uso recorrente de repressão policial e perseguição institucional como formas de silenciar a organização popular.

O MRLT afirma que seguirá mobilizando trabalhadores e ocupando áreas improdutivas como forma legítima de resistência social. Segundo o movimento, a luta pela terra, pela produção de alimentos saudáveis e por justiça social transcende fronteiras estaduais e se insere no enfrentamento histórico à exploração da natureza e à concentração de riquezas no país.

Informação à imprensa: COMRLT (Coletivo de Comunicação do MRLT)

Por: Redaçâo Local | Jailson Santos