Comunidade do Angelim I denuncia ameaça a mais de 200 famílias e violações de direitos no Sapê do Norte
Famílias do Quilombo Angelim I, no entorno da Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra (ES), protestaram nesta sexta-feira (25) contra a tentativa de despejo movida pela empresa Suzano Papel e Celulose. A ação judicial, baseada em mandados expedidos por um juiz substituto de primeira instância, abrange 2.487 hectares e ameaça deixar cerca de 200 famílias sem moradia e sem fonte de sustento.
Contrariando as alegações do processo, as famílias afirmam viver em uma comunidade consolidada, com casas estruturadas, plantações e projetos de reflorestamento que revitalizaram nascentes, antes secas pela monocultura do eucalipto. A área está protegida por ações civis públicas e aguarda a conclusão do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do INCRA para titulação quilombola, o que evidencia uma sobreposição de processos e o atropelo das garantias jurídicas.
As terras em disputa integram parte dos 61 mil hectares de eucalipto plantados em Conceição da Barra, representando 37% do território do município, mas gerando apenas 71 empregos. A monocultura, incentivada desde a ditadura militar, traz impacto ambiental severo e pouco retorno econômico à região.
Histórico de violações, como a grilagem denunciada na CPI da Aracruz Celulose em 2002, perseguições a comunidades tradicionais e a morosidade dos órgãos públicos, como o INCRA e a Fundação Cultural Palmares, agravam o cenário de vulnerabilidade dos quilombolas. Em 2021, após despejos ilegais de invasores organizados por grupos bolsonaristas, a própria Suzano havia prometido respeitar os direitos das comunidades tradicionais — promessa agora colocada em xeque.
Além da ameaça de expulsão, as famílias denunciam a vigilância por drones, invasão de domicílios sem autorização e a continuidade dos impactos socioambientais, como contaminação por agrotóxicos e degradação do solo, que comprometem seu modo de vida.
Por: Redaçâo